Alegria de viver
Marianella e Kim lutaram por idéias e valores em que
acreditavam. Chegaram até a sacrificar a vida pelo que consideravam
certo. Contudo, uma filosofia de vida não se manifesta somente em
guerras e situações de tensão. Não se associa apenas a feitos heróicos
e a grandes idéias. Nossa visão da vida também trata de coisas
íntimas — como nossa atitude para com a família e os amigos, para
com o trabalho e o lazer. Nossa perspectiva está ligada ao próprio
modo como desfrutamos a vida. "Cada revoada de pombos é como um
poema", escreveu Marianella em sua carta. E Kim, sentado em sua
cela à espera da morte, escreveu sobre as árvores na primavera e um
sorriso carinhoso.
Se esses dois defensores da liberdade tinham alguma coisa
em comum, era a experiência de que a vida é algo infinitamente
precioso. As cartas de Kim e Marianella irradiam a experiência de
valores fundamentais que para nós, na nossa vida diária, podem por
vezes passar despercebidos.
Será que precisamos enfrentar a morte cara a cara antes de
podermos experimentar a vida? Será que precisamos ver nossas idéias
e nossos ideais ameaçados e pisoteados para que possamos
compreendê-los?
"Os que nunca vivem o momento presente são os que não
vivem nunca — e o que dizer de você?", escreve o poeta dinamarquês
Piet Hein, num de seus poemas. O pintor e escritor finlandês Henrik
Tikkanen expressa uma idéia semelhante na seguinte máxima, ou
aforismo,
que nos dá o que pensar: "A vida começa quando
descobrimos que estamos vivos".