Judaísmo
A palavra
judeu deriva de Judéia, nome de uma parte do antigo
reino de Israel. Judaísmo reflete essa ligação. A religião é chamada
ainda de "mosaica", já que se considera Moisés um de seus
fundadores.
O Estado de Israel define o judeu como "alguém cuja mãe é
judia e que não pratica nenhuma outra fé". Aos poucos essa
definição foi ampliada para incluir o cônjuge.
O judaísmo não é apenas uma comunidade religiosa, mas
também étnica. Historicamente, o termo
judeu tem conotações
raciais, porém estas são inexatas. Existem judeus de todas as cores
de pele.
O pacto
de Deus com o povo escolhido
Uma das características do judaísmo é ser uma religião
intimamente ligada à história. As narrativas da Bíblia se baseiam
numa crença bem definida de que Deus fez uma
aliança especial, um
pacto
com seu povo escolhido, o povo hebreu.
As narrativas bíblicas começam com Adão e Eva e uma série
de relatos dramáticos que ilustram as conseqüências da inclinação
pecaminosa do ser humano e de seu desejo de se rebelar contra
Deus. Adão e Eva são expulsos do paraíso. Mais tarde, o mundo
inteiro é destruído por um grande dilúvio, do qual se salvam apenas
Noé e sua família, juntamente com todos os animais da Terra.
Sodoma e Gomorra, cidades sem Deus, são aniquiladas, e a torre de
Babel é derrubada, pois representam a tentativa humana de chegar
até o céu.
Cada evento histórico é visto pelos autores da Bíblia como
uma expressão da vontade de Deus.
D
E ABRAÃO A MOISÉS
A fase histórica seguinte teve início quando Abraão saiu da cidade
de Ur, localizada no atual Sul do Iraque, por volta de 1800 a.C.
O Gênesis relata que Deus disse a Abraão: "Sai da tua terra, da tua
parentela e da casa de teu pai, para a terra que te mostrarei. Eu farei
de ti um grande povo". Esse povo ganhou um nome após a dramática
batalha de Jacó, neto de Abraão, com um anjo de Deus. O anjo então
lhe deu o nome de Israel (o que venceu a Deus). Mais tarde, os doze
filhos de Jacó geraram as doze tribos de Israel.
A história de José, um dos filhos de Jacó, narra como os
israelitas foram parar no Egito, onde foram escravizados pelos faraós.
A Bíblia conta de que maneira Moisés os tirou dali e, depois de
quarenta anos errando no deserto, levou-os a Canaã, a Terra
Prometida.
Durante a travessia do deserto Deus — Javé — deu a Moisés,
no monte Sinai, as duas tábuas da Lei com os dez mandamentos a
que os israelitas deveriam obedecer. Dessa forma, fez-se um pacto
segundo o qual os israelitas deveriam reconhecer a existência de um
só Deus, e em troca se tornariam o povo escolhido de Deus.
Receberiam sua ajuda e seu apoio, desde que cumprissem o que lhes
cabia no acordo e obedecessem às leis de Deus.
Por volta do ano 1200 a. C, os israelitas conquistaram parte
de Canaã e por muito tempo viveram lado a lado com os habitantes
não israelitas. Seus líderes políticos e religiosos eram os chamados
"juizes", que procuravam cuidar de que o povo respeitasse as leis
dadas por Deus. Foi também por causa da guerra contra os filisteus
que surgiu a necessidade de um poder político centralizado.
O
REINO DE ISRAEL
Saul introduziu a monarquia por volta do ano 1000 a. C, mas
ela alcançou o apogeu durante os reinados de Davi e Salomão,
quando Israel se tornou uma grande potência política. Davi, nascido
em Belém, foi o grande rei que lutou contra os inimigos e uniu as doze
tribos, sob sua liderança, em Jerusalém. A Arca da Aliança — uma
arca contendo os dez mandamentos e que, segundo a tradição, os
israelitas haviam trazido consigo do Sinai — foi então transportada
para a nova capital. Ali, puseram-na no santuário interno do novo
Templo, quando Salomão, filho e sucessor de Davi, o construiu no
século X a. C,
O grande Templo de Jerusalém incluía um recinto fechado, o
Santo dos Santos, contendo oferendas de incenso e os pães da
proposição, e um vestíbulo externo onde se faziam os sacrifícios. Os
sacerdotes do Templo estavam encarregados desses sacrifícios, que
poderiam ser oferendas de animais ou frutos da colheita. O culto era
acompanhado por canções e hinos — os chamados Salmos de Davi,
que podemos ler na Bíblia. Os sacrifícios, que eram em parte uma
oferenda a Deus, em parte uma expiação pela culpa, deviam ser feitos
segundo regras estritas.
É possível que aos poucos as pessoas tenham começado a
sentir tais sacrifícios como mecânicos, ao mesmo tempo que a
liderança do país dava sinais de decadência moral e política. Isso
provocou a severa condenação dos
profetas. Entre eles, destaca-se
Amós, profeta que viveu por volta de 750 a.C. Em suas prédicas ele
atacava os males sociais, como, por exemplo, a opressão dos pobres
pelos ricos. Além de Amos, vários outros profetas deram mais peso à
justiça e aos ideais éticos do que às práticas rituais do culto sacrificial.
O
EXÍLIO NA BABILÔNIA
Os profetas advertiam o povo do juízo e da punição de Deus,
porque as pessoas não estavam vivendo de acordo com as leis
divinas. Muitos profetas viam. o declínio e a destruição do poder do
país como um justo castigo para isso. O reino foi então dividido em
dois, um reino do Norte (Israel) e um do Sul (Judá), tendo Jerusalém
como capital. Em 722 a. C, o reino do Norte foi devastado pelos
assírios e a partir daí deixou de ter significado político e religioso.
O reino do Sul foi conquistado pelos babilônios em 587 a.C.
Grande parte da sua população foi deportada para o exílio na
Babilônia. Entretanto, em 539 a.C. os que desejavam voltar para a
terra natal obtiveram permissão para isso, e daí em diante se
tornaram conhecidos como
judeus (palavra derivada de Judá e Judéia).
O
JUDAÍSMO E A SINAGOGA
Foi depois do retorno da Babilônia que começou a se
desenvolver a religião que costumamos chamar de
judaísmo. O núcleo
do judaísmo era a vida na
sinagoga, local de culto onde os fiéis se
reuniam para orar e ler as escrituras. Esse tipo de serviço religioso
surgira por necessidade durante o exílio babilônico, uma vez que ali
os judeus não tinham um templo onde orar. Ao voltar do exílio, eles
continuaram praticando esse serviço nas sinagogas, que foram
construídas em diversas cidades. Nestas, uma função relevante era
exercida pelos leigos versados nas escrituras, os quais zelavam por
elas, e buscavam interpretá-las e explicá-las. Não tardou que a
maioria desses homens instruídos passassem a vir das fileiras dos
fariseus.
Os fariseus davam muita importância à Lei escrita nos cinco
primeiros livros de Moisés — o Pentateuco —, e também às normas
relativas à limpeza e ao asseio; procuravam interpretar a Lei segundo
as novas condições que prevaleciam. Nessa época, o papel do Templo
já se tornara secundário.
O grande Templo de Jerusalém, destruído durante a
conquista babilônica de 587 a.C., foi reerguido em 516 a.C. O sumo
sacerdote, os demais sacerdotes e os levitas a eles subordinados eram
responsáveis pelo culto, que compreendia o sacrifício diário de um
cordeiro em expiação pelos pecados do povo. Após o exílio babilônico,
o sumo sacerdote se tornou líder do Sinédrio, o conselho dos anciãos,
que mais tarde incluiu ainda representantes dos homens mais
instruídos.
Nessa época, os judeus caíram seguidas vezes sob o domínio
político estrangeiro. No ano 70 d.C., uma revolta contra os romanos
levou ao saque de Jerusalém. O Templo, que recentemente fora
ampliado e transformado num esplêndido edifício pelo rei Herodes, foi
outra vez arrasado; isso selou o fim do papel desempenhado pelos
antigos sacerdotes. Dessa época em diante, foi o novo formato de
judaísmo, centrado nas sinagogas, que passou a predominar. Muitos
judeus estavam agora dispersos pelas terras do Mediterrâneo ou
ainda mais longe. Eram chamados de judeus da
Diáspora, palavra
grega que quer dizer "dispersão".